Eduardo S. Cremer
Nesse
momento surge uma questão: essa profissão já não tinha um documento que
tratasse dessa temática? Senão por um projeto de lei, ao menos os médicos, como
toda classe profissional, possui um Código de Ética que estabelece sobre seus
deveres. Então, do que se trata essa nova regulamentação? Olhando o projeto,
sinceramente, não é possível entender nada daquilo como novidade, caso queiram
tirar suas próprias conclusões segue o link da PL: http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/9098.pdf.
Os
críticos dessa lei falam que ela surge com o objetivo de garantir aos médicos
controle total sobre a saúde, algo muito amplo que abarca, sem dúvida alguma,
diversos outros conhecimentos diferentes da medicina. As pessoas que assim o
dizem argumentam que esse projeto de lei tem dois pontos que induzem a esse
caminho: o primeiro é o artigo 5º que estabelece que só médicos podem chefiar
serviços de saúde, embora ali esteja escrito serviço médico. O segundo é o
artigo 4º que diz que os médicos detêm as indicações terapêuticas dos
pacientes, sendo assim, para alguém procurar um psicólogo deveria, antes, receber
o encaminhamento do médico, algo que, hoje, já está institucionalizado pelos
planos de saúde.
Enfim,
meu objetivo aqui não é exatamente discutir o Ato Médico e seus possíveis
enganos, mas propor o ato da psicologia. Já que o jogo parece ser por controle
e reserva de mercado que participemos também disso, visto que nos incluíram sem
perguntar se concordávamos ou não em tomar parte. Para nós, psicólogos, é até
mais importante se não uma regulamentação, ao menos uma divulgação de
informação, já que, se nunca ouvi falar em psicólogos receitando remédios, já
ouvi muitas histórias de psiquiatras que, sem formação adequada, dizem fazer
psicoterapia, entendendo o termo como ato privativo dos psicólogos. Aqui ainda
reside a questão de que, se o profissional da psicologia compreende exatamente
o seu papel, não veria sentido algum, e nem haveria interesse deste, em
receitar remédios em sua prática.
Já
me deparei com casos de psiquiatras que, se outorgando hábeis para a prática em
psicologia, atendiam pacientes lhes passando semanalmente sua “experiência de
vida”. Ou em outros casos, como é comum, médicos darem ordens ou sugestões de
que caminho seu paciente deve tomar em sua vida.
Não
se trata de dizer a priori se isso é
bom ou ruim para o paciente, já que, em algumas situações o assistido prefere
receber “bons” conselhos em lugar de se implicar e se responsabilizar pela suas
questões. O que precisa ficar claro – e aqui falo principalmente para o
paciente, interessado direto no serviço prestado – é que esse tipo de
atendimento não se dá nos moldes de uma consulta psicológica. Dispondo dessa
informação o sujeito poderá escolher melhor o que quer, podendo mesmo optar
pelos tais “bons” conselhos. Dessa forma, apostamos na sabedoria do indivíduo
que procura ajuda, ninguém melhor do que ele mesmo para saber do que precisa.
Melhor inclusive que o médico e o psicólogo. Pensando dessa maneira, o artigo
4º do Projeto de Lei do Ato Médico, que versa sobre a prescrição terapêutica,
ficaria sem sentido, já que o sujeito é quem sabe do que precisa. Mesmo os
psicólogos, que trabalham diretamente com esse saber, poderiam fazer essa
indicação de forma precisa.
De
qualquer maneira, o que realmente proponho com esse texto é que também
poderíamos nos dispor de regulamentações, principalmente porque o espaço do
psicólogo sim é invadido diversas vezes por profissionais que não possuem a
formação necessária para prestar um serviço com possibilidades
psicoterapêuticas. Aliás, também é bom lembrar que trouxe aqui o exemplo da
medicina pela insistência de um ato regulador por parte dessa categoria, mas há
outros profissionais que também se propõe a uma prática para a qual não estão
devidamente formados.
E
por fim, entendo o que seria o “Ato da Psicologia” menos como algo estritamente
regulamentador, e mais como um instrumento de proteção por estarmos correndo o
risco de ficarmos presos - se é que é disso que o outro ato trata - à prática
médica. Talvez precisássemos mais de algo assim do que a própria medicina, principalmente
pela falta de informação das pessoas sobre a prática psicológica, algo que não
ocorre, definitivamente, com o saber médico, instituído há alguns séculos.
Portanto, o que seria mais interessante nessa proposta seria fazer circular
mais informação a respeito do que oferecem os psicólogos, principalmente para
que, quem precisa do espaço psicoterapêutico, saiba exatamente onde procurá-lo.
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