Essa pergunta se desdobra em várias outras diferentes, como por exemplo: trata-se de uma brincadeira que foi apropriada na forma de diagnóstico? É uma invenção que cria protocolos de diagnóstico e atendimento? É hipervalorizada pela mídia? É um comportamento que sempre existiu, mas nunca havia tido um nome ou é um fenômeno novo mesmo?
Além desses exemplos existem muitos outros que podem ser levantados, mas não me empenharei em buscar mais e nem em responder as questões. Trouxe-as aqui para que possamos pensar, discutir e tentar compreender porque falamos tanto nisso hoje em dia. O caminho que faço para isso é não naturalizar a questão, como se de uma hora para outra tivéssemos um surto de bullying nos colégios. Seguindo essa linha, separei duas perguntas relevantes para pensarmos na questão: o bullying só ocorre nas escolas? Somente uma faixa etária sofre com o problema?
Antes de falar sobre essas duas questões é importante não perder de vista o contexto social em que vivemos na contemporaneidade. Percebemos algumas características como individualismo exagerado, declínio do respeito ao outro, principalmente no tocante a aceitação da diferença e abuso de poder, para ficar com alguns que compõe um terreno fértil para todo tipo de violência. Portanto, há um cenário que é propício ao aparecimento do fenômeno citado aqui, senão pelo seu surgimento, pelo menos pela sua intensificação.
O bullying é definido por um ato violento – físico ou psicológico – repetido contra um aluno cometido pela mesma pessoa ou grupo de pessoas. Por essa descrição podemos analisar melhor as duas questões, começando por estar circunscrito à instituição escolar. O que acontece nesse espaço que uma brincadeira ganha outro nome e tem implicações diferentes para quem sofre em relação a outras áreas de convívio.
A escola apresenta um estilo de convivência que não se repete em outros espaços, pessoas das mais diversas são obrigadas a conviver, algo que sem dúvida pode ser muito rico se puder ser bem administrado. Se um jovem é importunado sempre por uma mesma pessoa, ele pode evitá-la em qualquer situação de convivência, menos na escola. Essa instituição é obrigatória e, por pior que seja, para alguém estar nela, os jovens tem que ir. Portanto, se algum aluno sofre alguma agressão em sala de aula todos os dias sem que consiga se defender e sem que ninguém intervenha, a vida torna-se insuportável, já que deve ir todos os dias ao mesmo lugar. Não tendo escolha não podem se afastar de quem lhe agride e com isso o sofrimento vai se intensificando. Em qualquer outra situação ele poderia escolher estar em contato com tais pessoas ou não, no colégio isso é quase impossível.
A outra questão importante se trata da faixa etária, outra característica que faz o bullying ser um tipo de assédio moral mais específico para merecer um nome diferenciado. O fenômeno é mais observado, como comprovado em pesquisa, no período compreendido entre o 6º e o 9º ano, anteriormente chamados de 5ª a 8ª série. Nessa fase os alunos têm idades que podem variar de 10 a 15 anos apresentando uma diversidade muito grande de tipos físicos e psicológicos, sendo que, muitos não possuem, ainda, estrutura emocional para suportar determinadas situações.
Uma agressão psicológica a alguém com dificuldades de se defender pode causar sérias complicações na vida de qualquer pessoa, num cenário como esses a situação pode ser ainda pior. A maioria dos jovens ainda não possui uma estrutura de personalidade muito sólida e estão sujeitos a agressões em espaços de onde não podem fugir. Normalmente os alvos das agressões são escolhidos tendo como parâmetro exatamente os poucos recursos de que dispõe para se defender da violência de que é vítima. Além de sofrer isso quase diariamente, algumas vezes, ainda tem um grupo contra ele reduzindo ainda mais suas possibilidades de reação.
Seguindo essa linha de raciocínio, talvez se justifique que um nome novo denomine tal violência, porque de fato se trata de algo específico. O que confunde é a apropriação que a mídia e alguns profissionais da educação fazem desses termos, supervalorizando o mesmo e atrapalhando a divulgação e intervenção adequados da questão. De qualquer maneira, por uma compreensão gestáltica, o nome que tem esse fenômeno nem nos interessaria muito a ponto de suscitar uma discussão muito longa, pois nosso foco seria o fenômeno em si, principalmente o sofrimento singular e real que vive o sujeito alvo desse tipo de assédio, algo bem palpável.
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