segunda-feira, 24 de maio de 2010

As dificuldades de um começo de carreira

Eduardo S. Cremer e Maíra P. B.Dourado



Na atualidade, após o término da universidade todos se deparam com a expectativa do primeiro emprego. Sobre esse aspecto, o pensamento hegemônico em nosso país de que a dificuldade é muito grande para conseguir um emprego, não raro, ganha um sentido pessimista: “não existe como achar um posto de trabalho”. Percebe-se aqui um senso comum que dificulta mais esse início.

No começo do caminho, durante a escolha profissional, existem influências que depois serão decisivas para o começo da carreira. Alguns exemplos que podem definir tal escolha são: a carreira que dá mais retorno financeiro, qual gosta mais, qual tem mais facilidades por uma estrutura familiar já montada, qual tem maior oferta de vagas, entre outros.

Dessa maneira cada escolha tem prós e contras, assim como também apresenta a dicotomia que cada profissão oferece em dificuldades e facilidades. A despeito disso, o que acontece de uma forma geral é o consenso de não existir profissão que alguém aconselhe a seguir, como se nenhuma delas tivesse algo atrativo. Esses conselheiros acabam passando suas frustrações, com opiniões negativas a respeito disso, com informações que dizem respeito somente às suas experiências subjetivas. Não atentam para o fato que cada um escreve sua história de maneira diferente.



Pode-se garantir com absoluta segurança que nenhuma carreira apresenta a garantia de sucesso total ou fracasso completo, o que faz a diferença é a motivação, a formação e também o que definiu a escolha. Imagine que alguém decide exclusivamente pelo retorno financeiro. O primeiro revés nesse item pode levar a desistência, ao passo que quem faz a escolha integrando outros critérios pode persistir mais e ter um desempenho melhor.



Algumas dificuldades se mostram circunscritas à área da saúde. Diferentemente da área de exatas, por exemplo, não se tem um caminho de continuidade faculdade/estágio/emprego efetivo que proporcione estabilidade. Os profissionais da saúde só alcançam isso mais cedo se optam também por uma via empresarial, afastando-se da área clínica. Outra opção seriam os concursos públicos da saúde, com todas as implicações, problemas e dificuldades de tal caminho.



O consultório surge então como alternativa a essas escolhas, porém o começo pode ser difícil pela falta de clientes, agravado ainda mais no caso específico de alguns profissionais, como os dentistas, que têm um gasto muito maior com equipamentos e que se eleva com o aumento de clientes. À parte dessas dificuldades, com a persistência da iniciativa, torna-se um emprego bastante consistente, mais estável do que trabalhar em uma empresa, por exemplo.



No caso dos psicólogos, além de todas essas questões já colocadas ainda temos que lidar, no consultório, com problemas de outra ordem que tornam o começo mais complicado. A começar pelos pré-conceitos da nossa profissão que vem de uma falta de conhecimento do que é o nosso trabalho. A expectativa de um diagnóstico, de uma “cura” rápida e a dificuldade de lidar com assuntos doloridos somam-se ao medo e à ansiedade inerentes ao processo, o que em algumas oportunidades interrompe o trabalho.



A questão financeira também está inserida nessa problemática e envolve o investimento que o cliente pode e quer fazer no processo. De forma geral, trata-se de algo que apresenta um valor subjetivo, ou seja, deve ser algo que custe o exato valor que faça sentido para os dois envolvidos na relação, nem mais, nem menos. A dificuldade aqui é se tratar de algo incomum e que em geral, os clientes têm dificuldades de lidar. Se isso não for bem manejado e pesar demais no orçamento, inviabiliza também o trabalho.



Enfim, diante da angústia da procura pelo primeiro emprego devemos estar atentos às dificuldades reais do processo e, não ceder aos encantos de um otimismo irreal e nem tampouco de pessimismos exagerados. É importante, contudo, dar-se conta que as trajetórias de vida não têm que ser iguais para todos, tanto no sucesso quanto no fracasso. Não há somente um caminho certo e não se deve tentar apenas os conhecidos. Talvez o mais importante seja fazer as escolhas mais coerentes possíveis para que, independente do resultado, tenhamos mais recursos para lidar com as conseqüências.



4 comentários:

  1. Muito atual esse texto!
    Quando nos formamos ficamos preocupados em estudar e fazer cursos, o que acho muito válido. Acredito que o preparo acadêmico deve caminhar junto com as noções práticas e reais de início da vida profissional.

    E para isso precisamos encontrar pessoas dispostas a nos fornecer informações precisas baseadas em suas experiências!

    Parabéns pela iniciativa!!!

    Luciana Zimmerer

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  2. Com certeza é uma problemática constante...
    mas acredito que a "solução" ou parte dela seria o acadêmico não deixar para depois d formado se preocupar com cursos.....
    eu por exemplo procurei por isso desde o início da graduação.
    meu currículo exige 75h extra curriculares e já no 5° período da graduação (metade do caminho) acumulei 262h.
    participando de cursos,seminários e congressos ... mas isso é raridade no meio acadêmico. minha turma por exemplo tem 80 estudantes e menos de 5 seguiram esse caminho.

    Isso me deu muito conhecimento e parcerias com pessoas já formadas e conhecidas na área,o que me abriu muitas oportunidades....

    Então,mais do que reclamar da falta de oportunidade e das dificuldades de ser inserido no mercado de trabalho,acredito q cabe ao formando desde sempre ter essa visão e se antecipar.

    Abraços !

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  3. Gostei! Me encontro nessa fase pessimista influenciada pelo meio social, pois estou trabalhando com vendas externas, e quando falo que sou psicóloga as pessoas ficam admiradas. Inclusive já ouvi que não sou boa pelo fato de estar trabalhando com vendas. Ninguém merece!

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  4. 2018 e isso ainda é atual. Com todos os problemas no país e a falta de pespectiva crescente nos deparamos com um pessimismo exacerbado. Pressões familiares, de amigos todos questionam o porquê de não termos alcançado o sucesso depois de anos de graduação. Como se tivéssemos obrigação de sermos bem sucedidos assim que terminamos a tão sonhada faculdade. Sendo que na verdade entramos em um limbo, não temos perspectiva de emprego, mas também não há garantias de que nunca vamos alcançar o que almejamos.

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