sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cirurgia plástica: reflexões contemporâneas.


Maira P. B. Dourado



Atualmente, no que se refere à cirurgia plástica, podemos iniciar o pensamento a partir da cirurgia reparadora ou da cirurgia estética, tratamentos nos quais notamos um avanço tecnológico em equipamentos, técnicas, produtos, cremes entre outros.



A cirurgia reparadora tem propiciado uma situação positiva àqueles que sofreram algum tipo de mutilação, seja por violência, acidente, doença ou má formação. Nesse caso a cirurgia restabelece um estado físico anterior, podendo este se aproximar ou retornar ao que era antes da mutilação. Nesse ponto um acompanhamento psicológico pode auxiliar a paciente estruturar-se diante das mudanças de seu novo corpo, tendo sempre em vista que a mudança/reparação o acompanhará a vida toda.



No caso da cirurgia plástica estética podemos refletir sobre alguns pontos que acredito serem importantes:



1.Agir por impulso, correspondendo as demandas do mundo moderno

2.Concretizar o desejo de vida eterna ou de eterna juventude

3.Agir por excesso de vaidade, um impulso narcísico

A atualidade, denominada pós moderna, tem como predominância a cultura do excesso, tendo a existência priorizado a paixão em detrimento à reflexão, a avidez à solidariedade, ligados a busca incessante pela eterna juventude.



Percebe-se o fenômeno do excesso e o caráter da urgência diante do que vai ao encontro do homem em sua relação com o mundo. A vida é vivida no imediato, baseada no prazer, procurando viver bem o hoje sem refletir que esse momento não é eterno. Crê-se nessa eternidade sem dar-se conta da vida no mundo, a qual está no nível do incontrolável e é finita.



Hoje as escolhas são feitas sob a predominância das sensações e ausência de temporalidade. O individualismo, o excesso, a avidez refletem um homem com pouca interioridade. Baseado em critérios externos, ele não tem firmeza nas suas escolhas, pois não vê em si um embasamento. Torna-se um barco a deriva, gerando desconforto e angústia.



O homem pós-moderno está numa busca constante pelo novo. A plástica estética e sua elevada difusão entre mulheres, homens, adolescentes e até crianças, em diversas faixas sociais, éum reflexo da forma deste homem corresponder ao mundo que lhe vem ao encontro.



Na sua existência o homem está em constante relação consigo e com o mundo, no sentido de uma responsabilidade singular que cada um tem com os critérios que o levarão a realizar suas escolhas. Mesmo sem dar-se conta desta relação, ela existe e o próprio homem é responsável por ela e por suas conseqüências.



Diante de cirurgias plásticas e alterações repetidas na sua aparência, a pessoa pode não mais se reconhecer, gerando assim um mal estar, ao contrário da sensação de bem estar e satisfação pretendida. Esse mal estar pode ser relacionado com a falta de parâmetros, critérios e limites, difundida diante do crescente estímulo à liberação dos impulsos voluntariosos e de satisfação desmedida dos desejos.



A sensação de frustração, revelada muitas vezes por esse mal estar, também é algo que tende a ser evitado e não compreendido. Nesse sentido a cirurgia plástica de cunho estético é uma alternativa àqueles aos quais o corpo incomoda. A facilidade de acesso aos profissionais e ao crédito financeiro no setor de estética são fatores significativos, visto que antes este era um limite concreto da vontade. O cuidado consigo mesmo torna-se, também, uma justificativa do ato da mutilação que pode ter como objetivo permanecer no controle da sua própria vida, do tempo e da reação que sua imagem provoca no outro.



Com tais facilidades e solicitações do mundo, que demandam acima de tudo urgência, o homem atua automaticamente e não reflete sobre si e o seu estar no mundo. Na constante busca pelo novo e fácil, somado a ausência de reflexão e compreensão de si e do mundo no qual se está, podemos falar de um comportamento patológico onde se desvela a compulsão por cirurgias plásticas de cunho exclusivamente estético.



Acredito que a psicologia pode contribuir auxiliando aqueles que, ou por estarem insatisfeitos esteticamente com sua aparência ou por necessitarem de uma cirurgia reparadora, pretendem se submeter ao procedimento cirúrgico, ou jáo fizeram, afim de que possam se apropriar de suas escolhas e das possibilidades envolvidas. Assim, ponderando sobre o processo e refletindo como será o depois, sua decisão não será feita por impulso, e sim apropriada, baseada na reflexão e no auto conhecimento

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