domingo, 22 de julho de 2012

Um pouco sobre vaginismo

                                                                                                                                                      Maira B. P. Dourado

O que é vaginismo? Esta é uma pergunta que pouco aparece principalmente porque, para muitos, ainda é difícil falar sobre sexo, mais ainda sobre as dificuldades de se ter relações com seus parceiros. Pensando nessa dificuldade me mobilizei a escrever este texto, para levar informações e a possibilidades de reflexão para mulheres e casais que sofrem por conviverem com tal situação, sentindo a dor física e psicológica.

Então, respondendo a pergunta, vaginismo é uma disfunção sexual feminina de diagnóstico pouco conhecido. Para muitas mulheres é uma intensa dor física que ocorre durante o ato sexual, que geralmente vem acompanhado da dúvida do real motivo. Muitas mulheres relatam um sofrimento que transcende os limites do corpo, passam pelo psicológico e pelo social, ou seja, uma dor que se revela aguda no encontro com o outro que, além disso, ocorre num momento de grande tensão e desejo, a relação sexual. Surge então uma grande incógnita sobre o real diagnóstico.

Alguns pacientes me questionam por que, ainda hoje, com tanta informação, há uma demora até se chegar a esse diagnóstico. Por mais antiquado que pareça, sexo ainda é um assunto considerado tabu, o que dificulta os saberes sobre muitas disfunções sexuais. A mulher que sofre com dores na relação sexual, comumente, se abstém de revelá-la, culpa-se por não conseguir sentir prazer ou por não poder dar prazer ao seu parceiro. Ela se cala e o silêncio pode protegê-la, momentaneamente, da vergonha e da culpa de uma dor desconhecida, entretanto, prolonga seu sofrimento.

É importante pensar que mesmo do lado dos profissionais da saúde, pouco se fala sobre o vaginismo, por esse motivo considero relevante trazer algumas informações e um espaço para o questionamento e reflexão. O vaginismo ocorre em função de um espasmo involuntário dos músculos que envolvem o canal vaginal e dos músculos constritores do ânus, que acontecem diante da tentativa de introdução de qualquer objeto na vagina. Ou seja, a disfunção pode ser revelada na relação sexual, na manipulação da própria mulher ou durante um exame ginecológico.

Alguns desses casos podem ser confundidos com frigidez, mas esta é caracterizada pela falta de desejo sexual ou ausência de orgasmo durante as relações sexuais, podendo ter origem psicológica ou não. No vaginismo o que geralmente acontece é a existência do desejo pelo parceiro, prazer ao toque, ao beijo, às carícias e mesmo o desejo pelo ato sexual. Entretanto tentativas sucessivamente frustradas e dolorosas culminam num estado de evitação onde a mulher se esquiva de qualquer situação que possa remetê-la ao sexo e consequentemente à dor.

Muitas mulheres que revelam os sintomas semelhantes ao descrito como vaginismo, além da dor física, podem apresentar consequências emocionais consideradas negativas como tristeza, baixa autoestima e sentimento de impotência perante a vida. Dúvidas, medo, insegurança, diversas sensações são vivenciadas por mulheres que sofrem por não conseguirem manter relações sexuais prazerosas e saudáveis com os seus parceiros. Tamanho sofrimento pode levar a mulher a um movimento de introversão e embotamento afetivo onde ela não consegue vivenciar seus sentimentos, experimentar o prazer, o carinho e o toque com naturalidade. Como extensão disso, ela pode apresentar dificuldades para se relacionar em outras áreas da vida, como profissional e familiar.

Outra característica é o desenvolvimento de um comportamento evitativo diante do parceiro. Esse fator, aliado à falta de diálogo, pode levar o casal a uma crise no relacionamento, visto que, sendo constantemente afastado, sem ter ciência da real situação e não compreendendo a sua complexidade, o parceiro sente-se rejeitado. Tal sentimento pode dar início ou agravar uma crise no relacionamento do casal.

O tratamento para o vaginismo existe, contudo pode ser lento e gradual, exigindo um empenho da paciente e compreensão do parceiro. Primeiramente deve-se procurar o ginecologista investigando eventuais causas fisiológicas e possibilidades de tratamento medicamentoso. Paralelamente, o acompanhamento com um psicólogo se faz importante, pois é o espaço que ajudará a mulher a perceber a sua condição feminina, se apropriando do seu corpo e da sua sexualidade, ampliando o horizonte sobre si e sobre o mundo que a cerca, auxiliando-a na re-significação criativa para o seu problema. No espaço da psicoterapia poderão emergir diversos temas a serem trabalhados, paralelos a queixa inicial de vaginismo, que poderão auxiliar em todo o processo de tratamento.

 Ambos, psicólogo e ginecologista, cada um no seu campo de atuação, auxiliarão a paciente a reconheser-se enquanto mulher e compreender-se no mundo que a cerca.  Um tratamento de sucesso para o vaginismo consistiria, então, na soma desses dois esforços e do empenho da paciente, com um possível apoio do parceiro.

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