O que é vaginismo? Esta é uma pergunta que pouco aparece
principalmente porque, para muitos, ainda é difícil falar sobre sexo, mais ainda
sobre as dificuldades de se ter relações com seus parceiros. Pensando nessa
dificuldade me mobilizei a escrever este texto, para levar informações e a
possibilidades de reflexão para mulheres e casais que sofrem por conviverem com
tal situação, sentindo a dor física e psicológica.
Então, respondendo a pergunta, vaginismo é uma
disfunção sexual feminina de diagnóstico pouco conhecido. Para muitas mulheres
é uma intensa dor física que ocorre durante o ato sexual, que geralmente vem acompanhado
da dúvida do real motivo. Muitas mulheres relatam um sofrimento que transcende
os limites do corpo, passam pelo psicológico e pelo social, ou seja, uma dor
que se revela aguda no encontro com o outro que, além disso, ocorre num momento
de grande tensão e desejo, a relação sexual. Surge então uma grande incógnita
sobre o real diagnóstico.
Alguns pacientes me questionam por que, ainda hoje,
com tanta informação, há uma demora até se chegar a esse diagnóstico. Por mais
antiquado que pareça, sexo ainda é um assunto considerado tabu, o que dificulta
os saberes sobre muitas disfunções sexuais. A mulher que sofre com dores na
relação sexual, comumente, se abstém de revelá-la, culpa-se por não conseguir
sentir prazer ou por não poder dar prazer ao seu parceiro. Ela se cala e o
silêncio pode protegê-la, momentaneamente, da vergonha e da culpa de uma dor
desconhecida, entretanto, prolonga seu sofrimento.
É importante pensar que mesmo do lado dos
profissionais da saúde, pouco se fala sobre o vaginismo, por esse motivo
considero relevante trazer algumas informações e um espaço para o
questionamento e reflexão. O vaginismo ocorre em função de um espasmo
involuntário dos músculos que envolvem o canal vaginal e dos músculos
constritores do ânus, que acontecem diante da tentativa de introdução de
qualquer objeto na vagina. Ou seja, a disfunção pode ser revelada na relação
sexual, na manipulação da própria mulher ou durante um exame ginecológico.
Alguns desses casos
podem ser confundidos com frigidez, mas esta é caracterizada pela falta de
desejo sexual ou ausência de orgasmo durante as relações sexuais, podendo ter
origem psicológica ou não. No vaginismo o que geralmente acontece é a
existência do desejo pelo parceiro, prazer ao toque, ao beijo, às carícias e mesmo
o desejo pelo ato sexual. Entretanto tentativas sucessivamente frustradas e
dolorosas culminam num estado de evitação onde a mulher se esquiva de qualquer
situação que possa remetê-la ao sexo e consequentemente à dor.
Muitas mulheres que revelam os sintomas semelhantes ao
descrito como vaginismo, além da dor física, podem apresentar consequências
emocionais consideradas negativas como tristeza, baixa autoestima e sentimento
de impotência perante a vida. Dúvidas, medo, insegurança, diversas sensações
são vivenciadas por mulheres que sofrem por não conseguirem manter relações
sexuais prazerosas e saudáveis com os seus parceiros. Tamanho sofrimento pode
levar a mulher a um movimento de introversão e embotamento afetivo onde ela não
consegue vivenciar seus sentimentos, experimentar o prazer, o carinho e o toque
com naturalidade. Como extensão disso, ela pode apresentar dificuldades para se
relacionar em outras áreas da vida, como profissional e familiar.
Outra característica é o desenvolvimento de um
comportamento evitativo diante do parceiro. Esse fator, aliado à falta de
diálogo, pode levar o casal a uma crise no relacionamento, visto que, sendo
constantemente afastado, sem ter ciência da real situação e não compreendendo a
sua complexidade, o parceiro sente-se rejeitado. Tal sentimento pode dar início
ou agravar uma crise no relacionamento do casal.
O tratamento para o vaginismo existe, contudo pode ser
lento e gradual, exigindo um empenho da paciente e compreensão do parceiro. Primeiramente
deve-se procurar o ginecologista investigando eventuais causas fisiológicas e
possibilidades de tratamento medicamentoso. Paralelamente, o acompanhamento com
um psicólogo se faz importante, pois é o espaço que ajudará a mulher a perceber
a sua condição feminina, se apropriando do seu corpo e da sua sexualidade, ampliando
o horizonte sobre si e sobre o mundo que a cerca, auxiliando-a na
re-significação criativa para o seu problema. No espaço da psicoterapia poderão
emergir diversos temas a serem trabalhados, paralelos a queixa inicial de
vaginismo, que poderão auxiliar em todo o processo de tratamento.
Ambos,
psicólogo e ginecologista, cada um no seu campo de atuação, auxiliarão a
paciente a reconheser-se enquanto mulher e compreender-se no mundo que a cerca. Um tratamento de sucesso para o vaginismo
consistiria, então, na soma desses dois esforços e do empenho da paciente, com
um possível apoio do parceiro.
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