Por Maira P. B. Dourado
Atualmente venho recebendo muitas dúvidas sobre a dificuldade de diálogo entre pais e filhos. “Meus filhos não me ouvem, eles não entendem o que eu estou dizendo.” “Não fazem o que eu falei para ser feito, isso é falta de respeito.” “Ele não cumpriu o prometido, onde ele aprendeu isso”.
Diante de diversos quadros percebo que antes de pensar em respeito, limites e aprendizagem, é importante falar um pouco sobre comunicação e linguagem.
Para começar, é importante definir que, comunicar significa falar e ser compreendido, ou seja, falar de uma forma que aquele que ouve entenda(mesmo que seja uma criança), e ter certeza de que se fez compreender. Outra definição importante é sobre a linguagem, é que ela não se restringe a fala. A linguagem também é não verbal, pode ser falada enquanto discurso, pode ser escrita,arte, música, pintura, escultura, brincadeira e corporeidade.
Esses últimos, brincadeira e corporeidade(linguagem não falada), são por vezes ignorados, e mostram-se fundamentais para quaisquer tipo de comunicação presencial, principalmente entre pais e filhos.
Pais são adultos. Falam. Estão inseridos num mundo pragmático, dinâmico, onde em poucas palavras se fazem entender. Certo? Nem sempre. E isso porque nem todos falam a mesma língua, na mesma velocidade e com o mesmo objetivo. E quando digo nem todos, digo, os filhos.
Os filhos enquanto crianças tem uma outra forma de se comunicar e é sobre ela que vou me estender um pouco mais.
O brincar é uma das formas de se expressar utilizada pela criança, é através da manipulação de brinquedos e movimentação do seu próprio corpo ou de corpo do outro, de forma lúdica, que a linguagem infantil pode se manifestar.
A linguagem da brincadeira é a forma mais espontânea de relação da criança com o mundo, ou seja, do mundo infantil para o mundo adulto. A criança pode utilizar da brincadeira para se comunicar, expressar suas angústias, seus medos e seus desejos. Algumas crianças são capazes de se expressar através da fala, outras necessitam do auxilio do brinquedo ou de alguma alternativa lúdica na tentativa de comunicar.
Tanto na fala como na brincadeira a criança é capaz de se fazer entender, dessa forma a brincadeira também é uma linguagem, e assim pode-se estabelecer um diálogo com a criança que vai além do verbal. Contudo é preciso estar ali com ela para compreender este modo de comunicação.
A palavra infância significa “na claridade sem fala”, ou seja, a falta da fala ou seu pouco uso na relação com adultos permite compreender o modo especial da relação entre as crianças e aqueles que a circundam. Esse modo de ser de pouca linguagem falada e abundância de imaginação, fantasia e brincadeiras é como elas se mostram.
Por outro lado os adultos dotados de linguagem verbal bem articulada, percebem as crianças através do modo deles, ou seja, muitas vezes não há como estabelecer um diálogo entre duas linguas que não se compreendem.
No entanto, como as crianças estão começando a aprender a linguagem do mundo adulto é de estrema importancia que o adulto torne-se flexivel e procure reaprender a falar como crianças.
Mesmo nos momentos mais difíceis para as crianças, como doença, separação dos pais, morte de alguém próximo, alguma mudança abrupta ou mesmo sobre assuntos delicados como sexo e sexualidade, é importante acolher seus sentimentos e falar para a criança claramente sobre o que está acontecendo e o que vai acontecer a partir de então, ou seja, uma explicação próxima da linguagem da criança e, diga apenas o necessário para a crianca compreender a situação.
Por exemplo numa situação de internação cirurgica, perto da hora da operação, geralmente, explico que ela estará dormindo, não poderá ter nada no estômago pois senão a comida pode voltar sem que ela perceba, atrapalhando o médico, e ela terá que fazer tudo de novo, repetindo todo o desagradável procedimento. Essa explicação não diminui o sofrimento da criança ou dá um falsa explicação, permite que a criança dê sentido a situação, por isso pode auxiliar na diminuição da irritabilidade e agressividade.
O diálogo da linguagem infantil com a linguagem dos pais faz-se compatível no momento que ambos mostram-se na intenção de se comunicar. Essa facilidade na comunicação está diretamente ligada ao tempo juntos, a paciência em perceber o que o seu tempo com ela é importante e que quando os pais estão com ela não estão no celular ou no computador. Ela se sente acolhida e poderá acolher os pais quando para eles for importante falar, comunicar, ser respeitado e ser obedecido. Esta é uma condição fundamental para a construção de um bom relacionamento entre a criança e os pais e consequentemente, do futuro adulto com o mundo.
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